O Conto de Verena & Corvus — Concurso; | Wiki | 【RPG】Hogwarts☇Harry Potter Amino (2023)

Para muitos, o destino está nas mãos de

três irmãs que o determinam. Em muitas

crenças, as linhas da vida estão lá, sendo

fabricadas, tecidas e cortadas pelas moi-

ras. Contudo, o que aconteceu até ao nas-

cimento de Nikolai não foi nada mais do

que uma simples coincidência. Não teve

divindades decidindo como acontecer,

não teve nada de realmente extraordinári-

o para como tudo se seguiu. Era apenas

uma coincidência.Duas pessoas em um

único lugar, foi apenas isso que desenca-

deou toda uma trama de desespero e ter-

ror no futuro de uma criança que sequer

existia na época.

[ I Hate My Mom — GRLwood ]

"'Por que você não pode simples-

mente ficar com meninos como

uma garota normal faria?'

Eu odeio minha mãe."

Verena, Verena, Verena. Nome doce e o soar como a de uma brisa, independentemente de quem o pronuncia. Qualquer que seja a moça que utilizasse aquele nome, era totalmente digna de assemelhar-se ao soneto de Shakespeare onde há comparações de alguém sendo chamado indiretamente de sol, brisa suave, praia. Mas não.

Verena era um nome para temer, respeitar e idolatrar incondicionalmente, assim como a mulher que o carregava. Uma bela mulher, de cabelos tão ruivos que lembravam uma fogueira crepitante; de sardas tão bem espalhadas e delineadas que pareciam estrelas manchadas na pele clara e macia; de olhos azul-turquesa, onde imitavam os mais belos rios da Costa Rica e carregavam todos os segredos do paraíso cristão e do olimpo grego.

No entanto, Verena era muito mais que medo; Verena era muito mais que beleza. Verena queria a sua liberdade, o controle de si mesma e de suas ações. A ruiva desejava ter a si para si, e um pouco mais de si. Não importava se tivesse que perder mais do estava disposta a dar, o que importava era que pela liberdade, ela faria de tudo.

— VERENA! — A jovem de dezoito anos lia um interessante livro de Astronomia na biblioteca particular que a sua família possuía. Com o seu nome sendo chamado, já revirou os olhos como a boa rebelde que era. — VERENA?

Calmamente se levantou e guardou o livro, como se não estivesse ninguém chamando-a desesperadamente. Tirou as rugas de sua longa saia roxa, que haviam se formado no tempo em que estava sentada. Prestes a sair da biblioteca, fora interrompida por mais gritos: — VERENA, EU ESTAVA CHAMANDO-LHE!

— Que horror, mamãe. Tenha um pouco de classe, os seus cabelos estão até em pé tamanha falta de prudência. — Revirou os olhos com um quê de deboche, ela tinha certo rancor pela própria mãe pela falta de criação que teve. Quando criança sempre fora largada nas mãos de outras pessoas, e por conta disso, sofreu diferentes traumas nas mãos daqueles estranhos, traumas irreversíveis.

— Ah, sua pirralha ingrata! Trate-me com o devido respeito, antes que eu queime a suas cortas com incendio novamente. — A mulher loira e alta, a qual chamava de mãe, sempre ameaçava-na daquela forma. Com fogo em algum lugar de seu corpo, e como não era estúpida, Verena engolia todo o ego e orgulho que possuía, a sua vida ainda estava nas mãos de sua família e se quisesse se manter viva, teria que fazer isso até onde arrumasse uma forma mais viável de sobreviver. — Agora para de agir como se fosse a rainha da casa e venha, preciso arrumar-te.

Com a virada da mais velha, a protagonista de nossa história cerrou os punhos, fazendo as unhas fincarem em sua pele tamanha que era a sua raiva. A raiva era o único sentimento que deixava-se sentir, a raiva e ambição eram o que a moviam, e eram o que a iria salvar.

[...]

— Mamãe, a senhora ainda não disse o porquê de estarmos arrumando os meus cabelos. — Ambas já estavam no quarto azul e roxo de Verena, o cômodo dispunha de móveis de madeira cor de ébano e diferentes constelações estavam no teto. As duas mulheres encontravam-se em frente a penteadeira; Verena sentada, e Têmis (a progenitora) em pé atrás da cadeira em que a sua filha estava sentada.

— Hoje é o dia em que conhecerá o seu marido. — Respondeu de forma simplória, penteando os cabelos ruivos e lisos; e os decorando com belas pedras preciosas azuis, as quais foram abençoadas por Hades, o deus do submundo. A mulher continuará com o semblante calmo, como se não houvesse acabado de dar a pior notícia para a garota e pior, como se não houvesse decidido o futuro sem nem mesmo um diálogo.

— O QUÊ? — Verena tirou as mãos da loira de seus cabelos de forma raivosa. Ergueu-se abruptamente quase derrubando a cadeira em seu movimento. — Eu não quero me casar com ninguém!

— Se controle, menina. — Com a sua voz insípida, Têmis comandou. Revirou os seus olhos e como sempre possuiu certa tolerância as crises e estouros de sua prole, apenas segurou em seus ombros levando-na para se sentar na cama. — Por que não? Há um homem que você tem em mente? Se ele for um necromante renomado como o seu pai e eu, poderemos fazer um casório com ele, já que é a sua escolha.

— Não, mamãe. Você não está entendendo, não há homem nenhum! — Segurou nas mãos da mais velha, implorando com os olhos. — Não há nenhum homem, eu só não quero me casar. Eu... Eu nem mesmo terminei a mentoria de necromante com o tio Thanatos e a de astrômaga com a prima Selene. Por favor, mamãe-

— Cale a boca. — Interrompeu a filha com um tapa em seu rosto, ela tinha sim tolerância com as crises de jovem adulta da garota, mas tinha um certo limite. — Você vai casar e ponto. Eu ainda te dei uma chance de você mesma escolher o peão que irá se casar, eu te dei essa escolha. Se eu fosse uma mãe ruim, só teria te casado com um velho raquítico qualquer, portanto que trouxesse herdeiros do grande senhor Herpo, o Sujo. A sua sorte é que eu sou boazinha e encontrei um belo homem de trinta e cinco anos, agora vá, termine de se arrumar sozinha...

As palavras cortantes de Têmis atingiram gravemente Verena. Não foi a pior coisa que a mulher já havia a dito, entretanto, era a pior coisa para o resquício de liberdade que tinha. Verena só tinha o seu corpo como seu, e saber que deveria entregá-lo a um estranho dezessete anos mais velho que ela, deixava-na enjoada. Sentiu a sua mãe sair da cama e se dirigir a porta, e no fundo, lá no fundo... Desejou que a mãe voltasse e a desse um abraço, dizendo que não, que era apenas uma mentira e que ela nunca obrigaria a filha se entregar para alguém daquela forma.

Só que não, a mulher continuou indo lentamente para fora do quarto da criança em forma de adulta. Sentiu uma enorme vontade de chorar e estava pronta para isso.

"Mate-a. Ela quer roubar a sua liberdade. Vá, Verena, faça isso. Faça isso. Faça isso. Faça isso. Faça! Faça! Faça!"

Verena sequer havia notado quando tinha pego a varinha e apontado para a própria mãe com o intuito de matá-la sem nenhum tipo de remorso. É isso. Ela poderia matar toda a sua família e assim estaria totalmente livre do controle que eles tinham sobre si. Iria poder sair para viajar e encontrar uma mulher gentil, que estivesse disposta a idolatrá-la e amá-la da maneira que merecia. — Avada Ke-

— EXPELLIARMUS! — Antes mesmo que a ruiva pudesse terminar de pronunciar a maldição da morte, lá estava a sua mãe a desarmando com os olhos arregalados e totalmente incrédulos. Num fio de voz, Têmis pronunciou: — Você... V-Você, sua rata. Você ia me matar?

Sequer pode negar. Apenas olhou para a sua varinha no chão, o que faria agora que foi pega? Deveria ter feito aquilo de forma mais silenciosa, de uma forma que pegaria todos de uma só vez. Só que a raiva, a raiva e traição queimavam de dentro para fora, era como um ácido.

Têmis se aproximou da filha puxando-a pelos cabelos e empurrando contra a parede, enterrando as unhas nas bochechas rosadas.

— Eu vou te ensinar a nunca mais apontar a sua varinha para mim, sua aberração. — Soltou o rosto da garota e apontou com a varinha para a face, sibilando uma única maldição: — Fogo Maldito.

[ I Did Something Bad — Taylor Swift ]

"Se um homem fala merda, então

não devo nada a ele. Não me arre-

pendo de nada porque ele mere-

ceu isso."

A mulher, de agora vinte e dois anos, encontrava-se sentada em um banco no bar trouxa mais barato que havia encontrado. Os shots de álcool escorriam pela sua laringe, queimando a sua garganta de forma confortável e prazerosa.

Gostava da queimação. Fogo, fogueira, incêndio, queimadura, fogomaldito.

Levou a sua mão esquerda à máscara branca que cobria metade do seu rosto. Por trás daquilo, havia uma queimadura horrível que a alguns anos atrás havia derretido a sua pele e a feito perder a visão do olho direito. Por onde passava, as pessoas encaravam... Por que uma mulher que tinha uma metade do rosto tão bela, escondia a outra? Era isso que eles se perguntavam.

— Oi, garotinha. Você tá perdida? — Um homem de traços asiáticos sentou no banco ao lado da ruiva, fazendo-a ter uma vontade enorme de jogá-lo para megeras. Sequer o respondeu, apenas tomou um outro gole da bebida a sua frente. — Você não vai me responder? Sabia que é falta de educa-

— Cala a boca, Hyun-woo. Não vê que a mulher não está interessada? Sai pra lá. — Apareceu outro homem de também traços asiáticos, desta vez empurrando o cara que aparentava estar embriagado, e sentou no lugar agora desocupado. — Desculpe-me por ele, madame. Meu irmão é... Ele está bêbado, simplesmente.

— Pois diga ao seu irmão bêbado, que se ele quiser algo com uma mulher, não é assim que ele vai conseguir. — Respondeu com um sorriso de canto, tomando outro gole sem se dar o trabalho de olhá-lo.

— Ah, acredite em mim, eu já disse milhares de vezes. — O homem de trinta e poucos anos deu um sorriso gentil para o barman e o pediu uma cerveja. Se virou novamente para a ruiva que ainda não sabia o nome e resolveu se apresentar: — Eu sou Hyun-min, Jeong Hyun-min. E você?

— Verena. Só Verena. — Com as palavras, resolveu virar um pouco o rosto para o sujeito que ousou se sentar ao seu lado e puxar conversa consigo.

— Verena é um nome muito bonito. Soa como... Como verão. — Deu um de seus belos sorrisos, um daqueles que eram tão grandes e carregavam tanta simpatia, que os olhos acabavam fechando como se estivessem sorrindo também.

Com a frase e o sorriso de graça, Verena chegou a conclusão em sua cabeça que é, aquele homem parecia estar tentando flertar com ela. Obviamente de modo sutil e até mesmo respeitável, se ela gostasse do sexo oposto, ele teria recebido muitos pontos por isso.

Estava prestes a dar um belo fora, não precisava de nenhum cara aleatório dando em cima dela no bar, não importa o quão educado ele fosse; mas, acabou notando o relógio caríssimo que ele tinha em seu pulso. Notou também a aliança que ele tinha no dedo e só conseguiu sentir muita pena da esposa dele.

"Se aproveite. Você não tem dinheiro, precisa se virar de alguma forma, mesmo que isso signifique... Se entregar para um homem. É temporário."

— Obrigada, querido. E de onde você é? — E com aquela pergunta, Verena havia acabado de assinar um contrato com o próprio diabo.

Foram meses de encontros inesperados, Verena conseguia o que queria. Não passava fome da forma que havia passado durantes anos, tinha roupas bonitas e limpas. Havia encontrado uma pessoa que não importava com a desfiguração de metade do seu rosto, mesmo que fosse alguém o qual ela não sentia atração alguma.

Hyun-min parecia realmente amá-la, mesmo que fosse apenas a sua amante. Ele a enchia das roupas mais caras, os jantares mais chiques e os chocolates mais finos e suaves. Era o relacionamento unilateral e escondido mais perfeito de todos.

Até que chegou o dia em que não.

[...]

A mulher revirava todo o seu apartamento, pegando a mala e arrumando todas as suas roupas e artefatos. Com a sua varinha, conseguiu organizar tudo rapidamente. Também na mala, colocou todo o dinheiro trouxa que conseguiu retirar do seu perseguidor.

— Aquele alienado desgraçado, tomara que ele queime! — Proferiu com muita raiva, já saindo do apartamento com as coisas que importavam para si.

A realidade é que após um ano do caso entre Verena e Hyun-min, a mulher acabará de descobrir que ele fazia parte da Cruz da Rosa, um grupo de conservadores malucos formados principalmente por abortos e trouxas, onde tinham o único objetivo de eliminar bruxos da forma mais limpa e secreta quanto possível.

O grupo normalmente localizava bruxos que se separavam do mundo bruxo e escolhiam viver com os trouxas, bruxos que também não possuíam família eram boas escolhas também; infelizmente para Verena, ela fora uma das rastreadas e se encaixava como uma vítima perfeita para eles.

A liberdade estava custando caro. Mas sabia que a "coisa" que carregava em seu ventre pagaria tudo que ela precisava, só precisava fugir daqueles malucos.

[ Animal I Have Become — Three Days Grace ]

"E daí se você pode ver o lado

mais negro de mim? Ninguém

jamais irá mudar esse animal

que me tornei."

— Cala a boca, seu catarrento. — Reclamou Verena com Corvus, o seu filho de agora de dois anos. O garoto era idêntico ao desgraçado que ferrou com ela, os únicos detalhea físicos que ele pareceu receber dela foi uma única pintinha embaixo do lábio e algumas leves sardas muito claras em seu rosto, já a parte da personalidade... Bom, ele parecia tão emburrado quanto a mãe e parecia conter uma aura mágica e negra sobre ele que ela não conseguia reconhecer muito bem. — Se você crescer e se tornar igual a mim, está totalmente ferrado.

A mulher não aguentava mais aquela criança, suportou dois anos tentando não negligênciá-la pois precisava vendê-lá a contrabandistas... Parece que descendentes de Herpo, o Sujo eram bastante caros no mercado negro bruxo. Ela sabia o quanto a sua decisão era enojável, mas não se importava, nenhum pouco. O que importava é que em algumas horas teria o dinheiro que precisava para sair daquele país de uma vez.

Viu a criança que já andava, se sentar em seu colo desejando atenção e apenas a retirou de lá, tomando cuidado para não machucá-la. Com a negação de amor e carinho, Corvus se sentiu melancólico, porém não demonstrou chorando e sim derrubando um vaso de porcelana tamanha a sua raiva.

— SEU- — Vendo o filho do desgraçado quebrar um de seus vasos, sentiu imediatamente cólera, sendo capaz até mesmo de ver vermelho. Foi até o pirralho e o levou ao quarto, trancando-o lá. — Você tem sorte de ser útil.

Ouviu a criança começar a se espernear e gritar, chorando de forma esganiçada. Ignorou totalmente indo até a cozinha pegar algo para beber e comer. Com o fim de sua refeição, Corvus ficará silencioso.

— Suspeito. Essa criança nunca se cala. — Levantou-se da cadeira e foi até o quarto que havia trancado, o abriu e viu o sul-coreano/grego/russo dormindo na cama de casal. Respirou fundo aliviada e quando ia fechar a porta, ouviu o som da campainha.

"Chegou a hora de você se livrar dessa aberração, Verena. A sua mãe estaria orgulhosa por tudo que você fez para sobreviver."

Fechou a porta delicadamente para não acordar o menino de cabelos negros, arrumou o próprio cabelo de forma que ficasse mais apresentável e fora até a porta de entrada, dando de cara com seis homens... Um deles sabendo muito bem quem era: Hyun-min.

[...]

Abriu os olhos vendo tudo de forma turva, suas mãos e pernas estavam presas, a sua cabeça dóia como nunca e a sua magia... A sua magia parecia não estar onde deveria estar, como se estivesse tendo uma interferência entre Verena e o seu núcleo mágico.

— Você finalmente acordou. — Hyun-min disse com um certo tom de deboche, andando ao redor da mulher presa. Aquilo estava deixando-a mais brava do que o comum, não com medo... Verena nunca sentia medo, ela não era o tipo de pessoa que tinha algo a perder. — Depois de dois anos e oito meses... Finalmente te achamos.

O homem colocou a mão nos cabelos dela, como se estivesse escovando e ela se sentiu toda a animosidade que sentia por aquele homem borbulhar em suas veias.

— Como anda a esposa e a sua filha, Hyun-min? Yelena é o nome da pirralha, não é? — Despejou veneno em cada palavra pronunciada, a sua máscara não estava em seu rosto, fazendo tudo aquilo ainda mais assustador; cabelos totalmente bagunçados, sorriso de orelha a orelha e a queimadura desagradável em metade do rosto. Jeong Hyun-min, ouvindo a mulher insana, deu um enorme puxão em seu cabelo.

— Você vai morrer, bruxa maldita. — O tom inflexível mostrava que sim, ela iria realmente, sem negociações. A mulher tentou de alguma forma fazer magia manual, ou até mesmo a sua ancestral, só que era como se estivesse tendo uma crise de cansaço mágico... Impossibilitada de produzir algum tipo de magia, não importa o quão pequena fosse. — Aleksandr, pegue o machado com veneno de beladona.

— Calma, calma, Jeong... Para que tanta pressa? — Estava tentando ganhar tempo, a ruiva se perguntava o que poderia fazer, que moeda de troca usar? Não demonstrava, porém, estava em desespero. Não queria morrer antes de conseguir boas férias no Caribe, não antes de viajar por todo o mundo. Vendo o tal Aleksandr vir com um enorme machado, resolveu usar a única coisa que tinha. — ESPERA, EU TENHO UM FILHO SEU HYUN-MIN!

O homem arregalou os olhos e ergueu a mão, fazendo com que o seu capanga parasse por um segundo.

— E daí? Eu não me importo. Mas estou surpreso com essa notícia. — O homem realmente não se importava, o "relacionamento" dele com aquela mulher não era nada mais, nada menos do que um meio para atingir um fim. E ele não desejava uma criança obscura como aquela.

— Pensava que você seria mais sentimental... — Riu de forma pesarosa, estava começando a se identificar um pouco com a criança; não tinha mãe e nem pai que se importavam genuinamente com ele, assim como havia acontecido com ela. — Ouça-me bem. Ele... O seu nome é Corvus, como a constelação. E eu- Eu falei com um xamã, queria saber mais sobre o futuro dele mesmo que fosse pouco- Já ouviu falar em ofidioglossia?

Sabia que com aquelas informações, prenderá Hyun-min na história. Talvez realmente pudesse usar a vida da criança como moeda de troca, talvez conseguisse e fugiria para bem longe.

— Ofidioglossia é... É a habilidade de conseguir falar com cobras. É uma habilidade incomum, no mundo bruxo... Quem possui essa habilidade normalmente sempre segue o mal caminho e obtém sucesso por isso... Pelo menos é o que as pessoas dizem. — Enrolou o quanto pudesse. — E- E- Só descendentes de duas pessoas são capazes disso. A minha família tem ligação com Herpo, uma dessas pessoas, nenhuma tem essa habilidade... Só... Só essa criança.

— Então, você está basicamente me dizendo que essa... Essa criança. É a pior das piores? — Perguntou de forma retórica, indo até o único aborto do grupo e questionando a veracidade das informações. Com a afirmação do aborto de que realmente, tudo que ela havia falado se encaixava nos detalhes do mundo bruxo que possuía; Hyun-min voltou para próximo de Verena com a sobrancelha arqueada. — E por que você está falando tanto dessa criança? Onde que isso se encaixaria na sua... futura batida de botas?

— Oh, caro Hyun-min... É simples. Eu posso te dar a criança. — Finalmente soltou a isca, só faltava que ele mordesse. — Você pode fazer o que quiser com Corvus, eu não me importo. Sério. Você o pega para fazer o que quiser e então me solta, nós nos esquecemos de tudo que aconteceu e cada um segue o seu caminho.

— Uau, Verena... Você é monstruosa, sabia? Vendendo o próprio filho dessa maneira... — O homem balançou a cabeça negativamente com uma sombra de sorriso em seus lábios, sempre se divertia com as palavras da mulher, eram erroneamente engraçadas. — Onde ele está?

— Agradeço por sua misericórdia, Hyunzinho. — Apesar de toda aquela conversação e controle sobre o seu corpo, a mulher estava se sentindo fraquejar cada vez mais, ainda tonta e minimamente tonta. — Ele está no quarto, é a terceira porta do corredor.

Fechou os olhos por alguns momentos, a dor de cabeça ainda martelava e martelava sem fim. Abriu os olhos novamente e notou que havia caído no sono por... O quê? Dois minutos? Só soube disso quando avistou Hyun-min ali, em frente a si com Corvus em seus braços.

— Ele se parece comigo, não é? — Perguntou para a mulher e tirou os olhos do garoto para sorrir para ela. — Tão quietinho e pequenininho... Não se preocupe, eu darei uma vida ruim a ele, assim como você deseja.

— Sim, sim, tanto faz. Agora, querido Hyun-min, poderia me soltar... Por gentileza? Eu preciso resolver os meus problemas, sabe. — Se remexeu e com os sentidos voltando um pouco, sentia as suas mãos e tornozelos doerem de tão apertado que estava a corda.

— Oh... Verena, você não entendeu. — Entregou o bebê para um outro homem do grupo assustador e vagarosamente se aproximou de Verena, ajoelhando em frente a ela. — Eu nunca disse que iria te poupar, apenas disse que queria saber onde estava a criança.

A pressão de Verena baixou imediatamente, a mulher de pele clara tornou-se ainda mais pálida: — Jeong- Ouça os seus sentidos-

— Cale a boca. — Deu uma leve gargalhada, aquela mulher realmente o divertia. Se levantou indo pegar Corvus novamente. — Aleksander, atinja bem no pescoço horizontalmente.

Jeong Hyun-min saiu do apartamento caindo os pedaços, ouviu os gritos vindo de lá e deu um sorriso satisfeito, sabendo que o trabalho havia sido feito e agora o mundo estava livre de mais um verme. Observou a criança ainda dormindo em seu colo.

— Eu gosto de Corvus, mas parece um nome muito... Místico e grego. — Falou consigo mesmo, caminhando e caminhando para fora do prédio. — Que tal... Nikolai? Nikolai Corvus Jeong? Ótimo.

No fim das contas, Verena conseguiu o que queria: a sua liberdade. Só não da maneira que imaginava.

[ casual sabotage — YUNGBLUD ]

"Estou tentando dormir com as

luzes acesas porque estou con-

fuso e estou assustado. Eu não

entendo isso sozinho."

A pequena criança de oito anos estava sentada na própria cama, era meia-noite e as luzes de seu quarto estavam acesas. Corvus- Diga-se, Nikolai; mesmo tão novinho, tinha os olhos mais vazios e opacos já antes visto, uma mini pessoa de oito anos não deveria ter aquela expressão que só era possível encontrar nas pessoas que perderam tudo.

Ele não morava mais com os pais Jeong Hyun-min e Yuliya Jeong (née Kuznetsov) a mais de um mês... Que foi quando a sua irmã Yelena morreu. Aparentemente para ambos, agora Corvus era uma criança vazia estúpida, como um fantoche, não estava nem mesmo reagindo a nenhuma das punições além de algumas reclamações por dor. Talvez aquele vazio repentino tenha sido pela falta de Yelena, mesmo que ele ainda não estendesse totalmente o conceito de morte.

— O que você acha que tá fazendo, filho de meretriz? — O seu tio, Boris Kuznetsov, adentrou o quarto com certa fúria em seus passsos vendo aquela criança sem dormir e pior, as luzes do quarto acesas. — Está tarde! Eu não ligo se você não dorme, mas desligue as luzes, não somos ricos para pagar milhões na conta do fim do mês.

— Desculpe, senhor. — A criancinha apenas repetia como fora ensinado; trate as pessoas bem mesmo que elas te tratem como a pior coisa na terra. A sua voz não demonstrava nenhum humor, nem mesmo o leve arrependimento por ter deixado as luzes acesas, mas ele sabia que o "titio burro" não conseguiria identificar aquilo. — É que não tem a constelação de Andrômeda com as estrelas Perseus, Cassiopeia, Cepheus, Triangulum e Pegasus ao seu redor. Nem uma luzinha de estrela na tomada.

Aos três anos de Nikolai, Yelena havia notado como que o garoto tinha dificuldade de dormir e procurou diferentes formas para ajudar: tentou chás, o que falhou miseravelmente, pois o moleque vomitava e reclamava como aquilo tinha gosto de mato; o mostrou músicas clássicas e rocks que fossem relaxantes, o que na verdade só fez o garoto criar uma nova obsessão, neste caso sobre música e toda a história dela; o fez praticar escrita antes de dormir, o que também criou uma nova obsessão no garoto por escrever poesias quando ficou mais velho. Felizmente, com o tempo, ela havia arranjado uma forma! O garoto sempre gostava de ficar fora de casa observando as estrelas e os astros, então, a menina na época comprou um conjunto de formas de estrelas que brilhavam no escuro e grudou todas elas no teto, colocando na ordem perfeita da constelação preferida de Nikolai e outras estrelinhas menores.

Todas as noites o menino ia dormir e ficava olhando para o seu teto brilhante, Yelena vinha e contava os mitos da constelação e de cada estrela que estava no teto, em menos de cinco minutos a criança caia no sono e assim foi por muitos anos.

Até que Corvus não tinha mais ninguém para fazer isso por si e a sua alma foi engolida pela solidão, sobrando apenas o vazio.

— Você quer ver as estrelas, é isso? — O homem fez uma pergunta retórica repleta de deboche e ironia. — Tudo bem, você pode ver.

[...]

Os pequenos pés descalços agora tocavam a grama e ele podia ver as estrelas no céu sorrindo levemente, mesmo que aquela demonstração não chegasse aos seus olhos. O seu tio o havia colocado para dormir no quintal já que o garoto parecia ter tanto interesse em Astronomia.

A noite era fria e a única coisa que Nikolai tinha para se esquentar era o próprio pijama de flanela, o que era muito leve e não esquentava em nada. Ele se deitou na grama e observou a bela visão do céu, torcendo muito que Yelena tivesse virado uma estrelinha e agora fizesse parte da constelação favorita dela que chamava-se "Corvus" (ou Corvo) por pura idolatria ao irmão.

— Por que tem aqui fora um filhote de humano? — Surgiu uma voz sibilante e meio assustadora, fazendo com que o menino se sentasse e olhasse para os lados a procura de quem era que estava falando tão estranho daquela forma. Sentiu algo frio enrolar as suas pernas e ficou totalmente parado ao notar que era uma cobra preta, tão escura que se camuflava na noite. — Penssssando ssse deveria fazer algum mal a ele.

— Espera... Você fala, sssenhora cobra? — Não importa o quão inteligente seja uma criança, se tem uma coisa que todas tem em comum é uma curiosidade inconsequente e o filho dos Jeong extrapolava quando se tratava disso; não importa o quão perigoso uma situação poderia ser, se aquilo despertasse a sua curiosidade e o desejo por saber mais... ele mergulharia de cabeça perdendo toda a lógica e noção.

— Você, filhote de primata, me entende? — O belo réptil mudou de ideia drasticamente, soltando-se da pequena perna e virando a sua cabeça para observar e analisar o menino. — Você é um daquelesss, um daquelesss que tem ligação conosssco, asss cobrasss.

— Ligação com vocêsss? — Só então ele notou que não estava falando como... Como gente. Estava falando de uma forma estranha, parecia estar falando como uma cobra, só que ele compreendia totalmente o que saia da sua boca da mesma forma que compreendia totalmente o que saia da boca da serpente desconhecida. — Isssso é muito legal.

— Oh, criança... Você não tem noção do quanto. — Era raro encontrar um humano que conseguisse entender a sua espécie, na verdade, ela mesma nunca havia encontrado um. Todavia, ainda se perguntava um humaninho daquele tamanho estava fazendo tão tarde fora daquelas construções estranhas que eles moravam. — Por que algo tão pequeno essstá fora se casa?

— Meu tio me colocou para fora, sssenhora. — Com toda a situação, apesar da perda ainda bem consciente em seu psicológico, um pouco de brilho e luz voltaram aos olhos do pequeno tamanho a sua euforia por poder falar com a cobra escura.

— Como ele oussa fazer isso com uma criaturinha tão pequena? Issso é... Issso é ruim. Humanosss sse matam por todos os ladoss e eu não ligo, mas como alguém ousssa fazer isso com ass criançasss? — Agora a cobra sibilava com raiva! Quem fez aquilo era um monstro, e ela tinha propriedade para falar sobre isso, considerando que uns descendentes de primatas haviam separado ela de seus filhotes. — Eu irei matá-lo por você.

— Não, não, sssenhora cobra. Morte não é legal... — Sibilou mais alto, não queria mais mortes em sua vida, mortes eram ruins (apesar de que no futuro, aos doze anos, o que ele mais desejasse que acontecesse com os seus pais e tios eram isso... que morressem). — Minha irmãzona morreu, não quero me sssentir maiss trissste.

— Sssinto muito por issso, pequenino... Não irei, tudo bem? Não irei. — A cobra agora começou a rastejar e escalar o corpo ossudo, enrolando-se no pescoço sem apertá-lo. — Vocês humanos tem chamativosss, não tem? Qual é o ssseu?

— Chamativoss? — Franziu o cenho enquanto abraçava-se, tentando trazer um pouco de calor mesmo que estivesse difícil (principalmente agora que o réptil gelado estava em contato com a pele da sua nuca, mas ele não iria reclamar, estava gostando da companhia). — Você está falando de nomesss? Sssim, eu tenho... O meu é Nikolai, mass pode me chamar de Niko, não tem problema! Você não tem?

— Nikolai... Niko. É um nome adorável, acho que combina com você. — O ser testou o nome em sua língua diversas vezes, não queria ter o risco de esquecer nunca. — E não, não tenho um "nome". Todavia, você pode me dar um.

— Sssério? — Perguntou de forma animada, tinha muitas ideias para nomes! Espera, agora ela era o seu animal de estimação? Era assim que as pessoas ganhavam petzinhos, não era? Nomeando-os e dando muito amor e carinho?

Apesar de muitas ideias para nomes, ele encontrava-se indeciso de certa forma. Olhou para a direita, para baixo, para a esquerda, para trás, para frente, para a cobra. E olhou para cima; encarando novamente aquele banho de brilhos e chegou a uma ótima ideia para o nome.

— Que tal Andrômeda? É uma conssstelação, acho que combina com você.

— Andrômeda? Eu gostei. — Sibilou alegremente. — Mas o que é uma conssstelação?

Desta vez, o sorriso que Jeong deu desta vez era um realmente satisfeito, sempre que alguém perguntava sobre os seus interesses ele tinha costume de falar, falar e falar até não poder mais. Saber que alguém estava disposto a escutá-lo era reconfortante e assim, durante a maior parte da noite, Niko e Andrômeda falaram sobre todos os astros possíveis, começando com a constelação a qual a cobra recebeu o nome até sobre o estudo dos signos e mitologia greco-romana.

Ao amanhecer, o protegido de Andrômeda sofria de um terrível frio; talvez até mesmo acabou contraindo uma pneumonia pelo frio e sua imunidade baixa. Ele não conseguia abrir os olhos tamanho cansaço e febre, até mesmo cochilava de forma delirante.

Os seus tios o encontraram totalmente gelado e com uma cobra enrolada a si. Andrômeda se foi e o menino nunca soube o que aconteceu com ela.